Gato Pardo, japonese style...
Não desgosto da gastronomia japonesa.
Ok, desde que o peixe não venha a nadar alegremente na minha tigela de sopa de miso de tão fresco que ele é, parece-me bem. O resto pode cair na minha mesa que é literalmente devorado. O que me inquieta ligeiramente é o constante problema de comunicação entre a minha pessoa e o empregado que me calha. Eu falo português fluente, ele costuma falar mandarim arranhado com um toque muito fluente em matemática aplicada (sim, porque não vale a pena pedir os pratos pelo nome, o número é sempre uma constante). Como estava cansado de me alimentar bem, fui por estes dias jantar a um restaurante japonês. Sabem, um daqueles em que somos recebidos à entrada com um efusivo "Oláááááááááááááááááá", muito ao género Mr. Bean se o gajo abrisse a boca para dizer uma palavra que fosse.
- Sinhôles têlem reselva??? - perguntaram-me.
F*ck. A sério? Éles pelos érres??? Pensei logo que isto ia dar molho. Só fiquei na dúvida se ia ser de ostra, agridoce ou coisa que o valha.
- Temos. Sinhôles têlem reselva... Ok, foi mais forte que eu. Que querem, sou humorista em part time. É um cliché...
À medida que me dirigia para a mesa olhei de relance para a cozinha e vi dois do cozinheiros quase à naifada um com o outro aos berros. Tive um verdadeiro momento dejá vu. Recuei 20 e tal anos no tempo até ao Duarte e Companhia e só me lembrava do Frederico Cheong, o famoso "EU NÃO SEL CHINÊS, EU SEL JAPONÊS!!!"...
Cinco minutos passados chega o empregado e sai-se com esta pérola...
- Senholes quelelem comel???
Hã...Juro, já não há muito na vida que me deixe sem palavras mas essa tirada deixou-me os tomates a rebolar pelo chão...a rir!!! Pior mesmo foi a minha resposta...
- Comer? Então mas isto não é uma casa de massagens tailandesa? Ó diabo...
O gajo ficou da cor do wasabi ou seja, verde fluorescente e pirou-se. Voltou 10 minutos depois um bocado a medo.
- Já sabel o que quelem comel???
- Já. Basicamente tudo. Podes mandar vir o sushi, o sashimi, os combinados e o saquê... - disse.
- Um 18, 38, 81 e uma galafa de 25...Senhol já bebeu saquê? Tel glande glau alcoólico- disse ele. (Note to myself...Glande...Ahahahahahahahah!!!!)
- Não é para beber, é só para desinfectar o fígado. Ocasionalmente também uso nas minhas cirurgias no bloco operatório. Tenho um part time como cirurgião da Yakuza...
E aí é que foi o canto do cisne...O tipo deve ter pensado "Yakuza? Gajo de cabelo farto e barba semeada? Ainda com os dois mindinhos? Epá, o gajo é bom..."
Nunca vi tanto sake na minha vida. Levando em conta que aquilo foi bebido quente, tenho vagas memórias de como saí do restaurante...Julgo que foi na vertical, ligeiramente a cambalear e talvez a trautear alguma música tradicional que ouvi no "Império dos Sentidos" muitos anos atrás...